Exames em excesso podem adoecer: médico revela o mais perigoso
Há três décadas atuando na medicina, o gastroenterologista Guilherme Santiago percebeu, nos últimos anos, uma transformação drástica na relação entre médico e paciente. Segundo ele, cada vez mais pessoas chegam ao consultório pedindo exames desnecessários ou até mesmo sem motivo real para consultas. A partir dessa constatação, escreveu o livro Medicina Excessiva, vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico de Medicina 2025, em que alerta para os riscos de tratamentos e procedimentos dispensáveis.
Em entrevista à coluna GENTE, Santiago citou o caso das tomografias, exames solicitados com frequência, mas que em alguns contextos podem trazer mais prejuízos do que benefícios. “A radiação sofrida pelo paciente equivale a três anos de exposição natural. Um estudo recente publicado pela revista JAMA (Jornal da Associação Médica Americana) analisou os 93 milhões de exames de tomografia realizados em 62 milhões de pessoas nos Estados Unidos, em 2023. Utilizando um modelo matemático do Instituto Nacional do Câncer, previram que essa radiação pode significar 103 mil novos casos de câncer no país”, explica.
No campo tecnológico, Santiago também observa mudanças significativas. Consultas mais rápidas, diagnósticos remotos e até atendimentos mediados por inteligência artificial já fazem parte da rotina da saúde. Mas ele levanta uma reflexão: “Será que as novas gerações vão se contentar apenas com a informação dada pela inteligência artificial, ou continuarão demandando algo mais? Quando alguém adoece, surgem sentimentos humanos de carência e de necessidade de atenção”.
A discussão ganha peso diante de declarações como a do ex-executivo do Google, Jad Tarif, que recomendou aos jovens interessados em medicina priorizarem cursos ligados à tecnologia da saúde. Para Santiago, esse pensamento ignora a essência da profissão: “Empatia, compaixão, escuta atenta, capacidade de oferecer cuidado. A roda tecnológica gira rápido, mas existe algo muito valioso para o ser humano e para o médico: a atenção dedicada ao paciente, a calma para ouvi-lo e a disposição para interagir melhor”, defende.
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